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CHAMADA PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS PARA DOSSIÊ

Dossiê: “Economias e moralidades em torno da Cannabis no Brasil”

Na última década, um grupo de mães atípicas tornou públicas as dificuldades que enfrentam cotidianamente no cuidado de seus filhos acamados, para os quais apenas um óleo de canabidiol, um derivado da Cannabis, era eficiente. O movimento acabou por politizar e disseminar a questão da cannabis medicinal por todo o Brasil. Desde então, a reivindicação pela democratização do direito ao acesso aos produtos de Cannabis para uso medicinal tem crescido e articulado de forma ambígua dois tipos de instituições: de um lado, ligas, associações e federações (muitas delas caracterizadas pelo regime da "dádiva" e da “desobediência civil") e, de outro, empresas (caracterizadas pelo regime de "economia de mercado"). Ora divergindo, ora convergindo em suas estratégias pela regulamentação da planta por meio de seus agentes "empreendedores" (econômicos e/ou morais), empregam seus capitais (social, político e simbólico) e agenciam uma extensa rede formada por médicos, cientistas, agrônomos, advogados, políticos de carreira e agentes do Estado.

Como pano de fundo desse cenário, estão as organizações/facções criminosas em torno do tráfico ilegal de maconha e suas inúmeras implicações, como violência, aprisionamento e penalização seletiva, o que seria um terceiro tipo de institucionalização no universo da economia canábica contemporânea. Partimos do pressuposto de que há distintos mercados e/ou cadeias de produção (regimes de produção, de distribuição e de consumo), cujo principal produto (Cannabis, maconha ou substâncias derivadas) encontra-se em constante (re)manipulação simbólica e jurídica que reflete uma instabilidade ontológica, própria de produtos situados em momentos de liminaridade como o que vivemos, a chamada “pré-legalização" da cannabis: entre remédio e/ou medicamento; produto e/ou mercadoria; legal, quase-legal e/ou ilegal; moral, imoral e/ou amoral. Tal condição virtual atualiza-se em relações sociais concretas que devem ser consideradas de forma interseccional, já que todas as etapas dos regimes dessa economia são perpassadas por enquadramentos subjetivos e normativos que variam de acordo com critérios socioeconômicos, raciais e de gênero. Esse dossiê pretende reunir análises etnográficas e documentais que discutam a relação entre Cannabis/maconha e substâncias derivadas, economias políticas, cadeias de produção, distribuição e consumo, regimes de troca e acessibilidade, processos de regulação e moralidades. Esperamos proporcionar um diálogo frutífero entre pesquisas que tenham a Cannabis e seus diferentes estatutos como foco, problematizando as relações entre sociedade, economias e moralidades.

 

Prazo de envio do artigo inédito : (até 10.000 palavras, incluindo as referências bibliográficas) As contribuições devem ser submetidas no sistema eletrônico da Revista EntreRios até o dia 30/09/2023


Organizadores:

Celso de Brito (PPGANT/UPFPI)

Hellen Monique dos Santos Caetano (PPGAS/UFRN)