A TRINCHEIRA MARXISTA: MIDIATIVISMO E OS SENTIDOS MOBILIZADOS POR SUJEITOS DISCURSIVOS NO YOUTUBE
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar a constituição de uma trincheira marxista no YouTube a partir dos sentidos mobilizados pelo discurso de três produtores de conteúdo/divulgadores do marxismo na plataforma: Jones Manoel, do canal que leva seu nome, Rita von Hunty, do Tempero Drag, e Sabrina Fernandes, do Tese Onze. A investigação empírica apoiou-se no ferramental teórico da Análise de Discurso e da Teoria Semiolinguística para mapear sujeitos discursivos (éthos e páthos), campo adversarial, formações discursivas e predileções temáticas de cada um dos canais, tomando como corpus empírico 254 vídeos publicados entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2021, período em que a extrema direita neoliberal ocupa a Presidência do país. Os resultados indicaram a construção de três diferentes sujeitos discursivos em contexto midiativista: o “combatente revolucionário e o discurso de guerrilha”; a “professora artivista e o discurso debochado”; e, a “militante estrategista e o discurso acadêmico”. Embora não se apresentem como um corpo discursivo homogêneo, identificamos dois principais pontos de convergência no decorrer da análise: formação política da audiência, no sentido de criação de uma “comunidade imaginada de iguais”; disputa hegemônica por uma visão de mundo que coloca o marxismo como alternativa para a superação do sistema neoliberal.
Texto completo:
PDFReferências
ALMEIDA, R. Bolsonaro presidente: conservadorismo, evangelismo e a crise brasileira. Novos estudos. CEBRAP [online]. 2019, vol.38, n.1, pp.185-213.
BENTES, Ivana. Economia narrativa: do midiativismo aos influenciadores digitais. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET-MG: Belo Horizonte, 2018. P. 151-169.
BENTES, Anna. A gestão algorítmica da atenção. MediaLab, 2019. In: https://medialabufrj.net/wp-content/uploads/2019/08/BENTES-GESTAO-ALGORITMICA-politicas-internet-e-sociedade.pdf Acessado em: jun. 2021.
BOBBIO, N. Direita e Esquerda. Razões e significados de uma distinção política. São Paulo: Editora Unesp, 1994.
BRAIGHI, Antonio. O discurso do mídia ninja: a (des)igualdade social nas representações e ações midiativistas. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE ANÁLISE DO DISCURSO, 4., 2016, Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte, UFMG, 2016b.
BURGESS, Jean; GREEN, Joshua. YouTube e a Revolução Digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade. Tradução Ricardo Giassetti. – São Paulo :Aleph, 2009.
BURITY, Joanildo. A onda conservadora na política brasileira traz o fundamentalismo ao poder? In: ALMEIDA, Ronaldo de; TONIOL, Rodrigo (orgs.). Conservadorismos, fascismos e fundamentalismos. Campinas: Editora Unicamp, 2018.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo Editorial, 2016.
CANDIDO, Antonio. O significado de Raízes do Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil – 27ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
CASTELLS, Manuel. O poder da comunicação. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
CHARAUDEAU, Patrick. Um modelo sócio-comunicacional do discurso: entre situação de comunicação e estratégias de individualização. In: STAFUZZA, Grenissa; PAULA, Luciane de (Org.). Da análise do discurso no Brasil à análise do discurso do Brasil. Uberlândia (MG): Edufu, 2010.
FIORIN, José Luiz. Em busca do sentido: estudos discursivos – 2ª edição, 2ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2019.
FOLETTO, Leonardo Feltrin. Midiativismo, mídia alternativa, radical, livre, tática: um inventário de conceitos semelhantes. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET MG: Belo Horizonte, 2018. P. 95-110.
COSPITO, Giuseppe. Verbete Hegemonia. LIGUORI, Guido; VOZA, Pasquale (orgs.). Dicionário Gramsciano. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017.
GHEDIN, Rodrigo. Cinco dos dez canais que explodiram no ranking do YouTube durante as eleições são de extrema direita. Intercept Br, 2019, disponível em , acesso em maio de 2021.
GOHN, Maria da Glória. Manifestações de junho de 2013 no Brasil e praças dos indignados no mundo. Petrópolis: Vozes, 2014.
GRAMSCI, Antonio. Maquiavel. A política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
LACLAU, Ernesto. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2015.
LÊNIN, Vladímir. O que fazer? Questões cadentes de nosso movimento. São Paulo: Boitempo Editorial, 2020.
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar Editora, 2018.
MOUFFE, Chantal. Sobre o político. São Paulo: Editora Unesp, 2015.
NETTO. José Paulo. O que é marxismo (Primeiros Passos). São Paulo: Brasiliense, 2017. [eBook].
NOGUEIRA, Marco Aurélio. O que motiva os ataques dos bolsonaristas ao chamado “Marxismo Cultural”. O Globo. 2019. Disponível em , acesso em março de 2021.
NORRIS, Pippa; INGLEHART, Ronald. Trump, Brexit and the rise of populism: Economic Have-Nots and Cultural Backlash. Faculty Research Working Paper Series, Harvard Kennedy School, 2016.
ORLANDI. Eni P. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. 13ª edição, Pontes Editores, Campinas, SP. 2020.
PEREIRA, Ailton Teodoro de Souza. As metamorfoses do marxismo no Brasil; orientador Sedi Hirano. São Paulo, 2016.
RAMALHO, Raul Augusto. Midiativismo e participação política em redes sociotécnicas: estratégias discursivas de coletivos brasileiros no processo eleitoral de 2018. Natal, 2020. Disponível em , acesso em maio de 2021.
REIS, Ruth; ZANETTI, Daniela; FRIZZERA, Luciano. A conveniência dos algoritmos: o papel do YouTube nas eleições brasileiras de 2018. Revista Compolítica, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, p. 35-58, 2020. DOI:10.21878/compolitica.2020.10.1.333.
ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra Cultural e Retórica do ódio: Crônicas de um Brasil Pós-político. Rio de Janeiro: Caminhos, 2021.
ROCHA, João Cezar de Castro. Podcast Guilhotina #77, Le Mond Diplomatique Brasil. Disponível em: https://diplomatique.org.br/guilhotina-77-joao-cezar-de-castro-rocha/, acesso em maio de 2021.
RODRIGUES, Lidiane Soares. Leitores e leituras acadêmicas de Karl Marx (São Paulo, 1958- 1964). Intelligere, Revista de História Intelectual, São Paulo, v. 2, n. 1 [2], p. 1-19. 2016. Disponível em . Acesso em março de 2021.
SANTANA, Eliara; MARI, Hugo. Midiativismo, imprensa e a questão da ideologia. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET-MG: Belo Horizonte, 2018. P. 212-225.
SILVA, André Luiz; ANGRISANO, Rafael. Uma interface discursiva do midiativismo: ethos e imaginários mobilizados em posts do Jornalistas Livres. In: BRAIGHI, Antônio Augusto; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco Túlio (orgs.). Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. CEFET-MG: Belo Horizonte, 2018. P. 629-650.
TEIXEIRA, Antonio Claudio Engelke Menezes. Sobre mídia e ninjas: as Jornadas de Junho e a (des)construção de um novo sujeito político. 38º Encontro Anual da ANPOCS. In: https://www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/38-encontro-anual-da-anpocs/gt-1/gt04-1. acesso em junho de 2021.
VIANNA, Marly de Almeida Gomes. Observações sobre ideias socialistas, anarquistas e comunistas na imprensa (1902 – 1924). In: SENA JÚNIOR, Carlos Zacarias (orgs). Capítulos de história dos comunistas no Brasil [online]. Salvador: EDUFBA, 2016.
DOI: https://doi.org/10.26694/rcp.issn.2317-3254.v10e1.2021.p109-138
Apontamentos
- Não há apontamentos.
ISSN 2317-3254