O Auto da compadecida e autotelismo literário: João Grilo e a reivindicação de si

Everaldo dos Santos Almeida, Roberto Max Louzeiro Pimentel

Resumo


Em Auto da Compadecida, João Grilo é a grande encenação da peça na medida em que ele ocupa o lugar do discurso por meio do qual certas formas linguísticas e simbólicas incluem não só o dizível, mas também as formas de subjetividade que materializam o conhecimento e a identidade de si e do outro, segundo os muitos papéis que o sujeito desempenha na vida. O real é, pois, sobredeterminado pelo imaginário; nele, os sujeitos vivem relações e representações reguladas por sistemas que controlam e vigiam a aparição dos sentidos na realidade literária. O espaço literário faz, em um certo sentido, parte da sociedade, mas normalmente a enunciação literária desestabiliza um lugar dotado de um dentro e de um fora: os meios literários são fendas que não cessam de se abrir na sociedade. Dessa forma, João Grilo aciona em seu discurso, a (re)invenção de uma realidade engendrada por articulações só possíveis por suas experiências sociais, elaborando eficientes mecanismos de controle da realidade pela palavra quando ele transita sobre o discurso de si e do outro, des(constituindo) a realidade constantemente (re)criada. Os sujeitos são reféns de João Grilo, que os transformam em obra de arte argumentativa, na medida em que essas personagens são desveladas, trazendo seus discursos do subsolo, revelando, sobremaneira, um jogo de intenções. João Grilo articula seu pensamento como intervenção, como atuação sobre si e sobre os outros, pois o pensamento é, na sua essência, potência pura, isto é, intelecto possível e material.
Palavras-chave: Cultura. Argumentação. Discurso e subjetividade.


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