O lugar discursivo das notas do tradutor no processo tradutório: a tradução pensada pelo viés da análise de discurso pêcheuxiana

Débora de Castro Barros

Resumo


Quando pensamos no trabalho do tradutor, a primeira questão que vem à mente é o trabalho da tradução em si, ou seja, o de transpor, de uma língua para outra, um texto escrito por alguém, configurando-se na concepção dita tradicional de tradução, de que traduzir seria transpor as ideias de um texto, o original, para outro texto em outra língua, o texto traduzido. Entretanto, há outro caminho para considerarmos a tradução e, consequentemente, o papel que o tradutor exerce nela: considerar o ato de traduzir como processo tradutório. Essa é a concepção adotada pela análise de discurso pêcheuxiana. Assim, este artigo — fruto de minha dissertação de mestrado defendida em 2009 — objetiva analisar o discurso do tradutor explicitamente expresso nas notas do tradutor. Foram usadas como corpus de análise as notas de duas traduções brasileiras de O pai Goriot, de Honoré de Balzac. Veremos como um dos resultados da pesquisa que as traduções podem ser responsáveis pela construção de representações e imagens: do tradutor, do leitor, da tradução, do país ao qual se dirige a tradução. Considera-se também que seu discurso está presente em toda a tradução; no entanto, percebe-se que seu reconhecimento se dá, em geral, apenas nos paratextos da tradução: prefácios, introduções, apresentações, notas de pé de página e de fim de capítulo… É nestes que se configura uma separação entre o discurso do autor, pretensamente acessado pelo tradutor e expresso no texto da tradução, e o do tradutor, presente nos paratextos.

Palavras-chave


Processo tradutório; Michel Pêcheux; Discurso

Texto completo:

PDF

Referências


BALZAC, H. de. A comédia humana. Orientação, introduções e notas: Paulo Rónai. Nova ed. rev. São Paulo: Globo, 1989a. v. I.

BALZAC, H. de. O pai Goriot. In: BALZAC, H. de. A comédia humana. Orientação, introduções e notas: Paulo Rónai. Tradução: Gomes da Silveira. Nova ed. rev. São Paulo: Globo, 1989b. v. IV.

BALZAC, H. de. O pai Goriot. Tradução: Celina Portocarrero e Ilana Heineberg. Porto Alegre: L&PM, 2006. (Coleção L&PM Pocket).

BARROS, D. de C. As notas do tradutor como lugar discursivo: uma análise das

notas de duas traduções brasileiras de O pai Goriot. 2009. 177 f. Dissertação (Mestrado em Letras Neolatinas – Estudos Linguísticos Neolatinos – Opção Língua Francesa) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

HENRY, J. De l’érudition à l’échec: la note du traducteur. Meta: Journal des Traducteurs / Meta: Translators’ Journal, v. 45, n. 2, p. 228-240, 2000. Disponível em: http://id.erudit.org/iderudit/003059ar. Acesso em: 28 set. 2020.

MAINGUENEAU, D. Termos-chave da análise do discurso. Tradução: Márcio Venício Barbosa e Maria Emília Amarante Torres Lima. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

MICHAUD, G. Freud: N. do T. ou afetos e fantasmas nos tradutores de Freud. In: OTTONI, P. (org.). Tradução: a prática da diferença. 2. ed. rev. Campinas: Editora da Unicamp, 2005. p. 97-124.

MITTMANN, S. Notas do tradutor e processo tradutório: análise e reflexão sob uma perspectiva discursiva. Porto Alegre: UFRGS, 2003.

ORLANDI, E. P. Análise de discurso: princípios & procedimentos. 6. ed. Campinas: Pontes, 2005.

PÊCHEUX, M. L’inquiétude du discours. Textos escolhidos e apresentados por Denise Maldidier. Paris: Éditions des Cendres, 1990.

RÓNAI, P. A tradução vivida. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

RÓNAI, P. Balzac e A comédia humana. 3. ed. São Paulo: Globo, 1993.

VENUTI, L. The translator’s invisibility. 1. ed. EUA: Routledge, 1994.


Apontamentos

  • Não há apontamentos.