"FOI AQUI SEU MOÇO QUE CONSTRUÍMOS NOSSA MALOCA" - ENTRE O FATO E A MÍDIA: O AVESSO DO SENTIDO DO DISCURSO
Resumo
Com o objetivo de compreender os efeitos de sentido a partir dos aspectos referenciais e contextuais organizados nas matérias jornalísticas sobre o afundamento do bairro Pinheiro, em Maceió-AL, partimos do pressuposto de que o uso de artifícios da linguagem concretiza propostas de sentido, isto é, nos textos/discursos que lemos ou produzimos, constitui-se um conjunto de decisões que vão funcionar como instruções ou sinalizações orientadoras da construção de sentido. A motivação inicial para o desenvolvimento deste trabalho pauta-se por eu ser morador do bairro Pinheiro, há mais de 35 anos, e desde 2018, após um tremor de terra, perceber as mudanças socioeconômicas provocadas pela divulgação do problema na mídia, explicitando sentidos sobre aquele bairro. Concordando com Marcuschi, “[...] o sentido é um efeito produzido pelo fato de se dizer de uma ou outra forma esse conteúdo (2008, p.76), pois o “[...] sentido não está no leitor, nem no texto, nem no autor, mas se dá como um efeito das relações entre eles e das atividades desenvolvidas” (op. cit., p.242). A pesquisa é de caráter analítico-hermenêutico, avaliando o objeto de forma qualitativa, tornando-se a análise crítica e a interpretação os procedimentos metodológicos empregados. O corpus é constituído por cinco matérias jornalísticas on-line, analisado pela Análise Crítica do Discurso (ACD), que possibilita, como afirma Fairclough (1995, p. 49), “[...] elucidar as naturalizações advindas de práticas ideológicas, tornando clara os efeitos que o discurso causa por serem opacos para os participantes”. Observa-se que a textualidade apresentada nas matérias analisadas constrói sentidos ora de medo, ora de culpabilidade e de incertezas para os moradores, como assevera Koch (1993): cada um dos mundos que podemos atribuir a um texto como interpretação semântica é determinado pelo conjunto das proposições que são verdadeiras nesse mundo, e pelas inferências que delas se podem derivar.
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PDFReferências
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